Leonam Bueno Pereira[i]
Raimundo Pires Silva[ii]
Nas últimas semanas todos nós assistimos o intenso debate que se travou nos meios de comunicação repercutindo as discussões em andamento na Câmara dos Deputados com relação à aprovação do Novo Código Florestal. Nesse processo é preciso ter um lado. Mais do que isso, é preciso ter bem claro algumas questões relacionadas ao comportamento, ou ainda, podemos dizer, às características da agropecuária no país.
Em primeiro lugar devemos ressaltar nossa indignação com a hipocrisia de como é tratado o tema nos meios de comunicação. O Prof. Gilson Caroni Filho, por exemplo, externou a sua indignação quando, em artigo publicado no site Carta Maior, na data de 14 de maio de 2011 , colocou uma questão crucial para a reflexão do que se acostumou chamar, no Brasil, de o “campo progressista”. É sua a frase: “Será o Código Florestal a prova dos nove para o habitual transformismo que, vez por outra, visita forças do campo progressista?”. E conclui: “A Amazônia é um exemplo. Seu desmatamento é obra conjunta de latifundiários, grandes empresários e empresas mineradoras.”.
A metáfora dos Gafanhotos que dá título a este artigo é bem a dimensão do significado da questão ambiental no país, e em especial, da preservação de nossas florestas. Por economia de espaço não vamos reproduzir as narrativas sobre a “praga de gafanhotos” que sobrevêm sobre Judá, descrita no Livro de Joel (antigo testamento). Porém, devemos insistir que ao mesmo tempo em que se manobra para aprovar uma “flexibilização” na legislação ambiental do país, tendo por base um duvidoso argumento de que irão faltar alimentos (!!!), comete-se três assassinatos de militantes das causas ambientais e das causas da terra. É fundamental marcar essas datas e convocar todos os que lutam por soberania, para não se calarem frente a esses escândalos que envolvem o “agronegócio brasileiro”. Dessa forma, saímos dos gafanhotos cortadores e estamos vivendo na companhia dos gafanhotos devoradores.
Assassinar trabalhadores agrícolas, ou camponeses, é uma tradição no Brasil. Essa é uma das características do agronegócio brasileiro que, se realmente primam com orgulho da pujança e a importância que apresentam na estrutura sócioeconômica do país como declaram algumas de suas lideranças, deveriam, escandalizados, envergonhar-se de tais atos de barbárie e violência.
Outra característica muito notória da agricultura brasileira é conduzir o aumento de produção a partir da expansão da área ocupada pelas culturas, como se não existisse tecnologia suficiente e disponível para se ampliar a produção dos cultivos por hectare ocupado com a atividade. Na verdade, o hábito da ocupação latifundiária permanece, predador das matas do país tendo por base a ocupação extensiva. Migram como gafanhotos ocupando as terras a partir da abertura das matas, e quando encontra a resistência da agricultura familiar, a violência é a opção.
A atuação do governo, dos partidos e especialmente, de setores da sociedade, nessa discussão sobre o tema ambiental, esqueceu o ponto mais importante. A Função Social da Propriedade da Terra. Ela, a função social, exige o cumprimento de quatro itens e entre eles, a utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente. Isto está na Constituição. A Função Social da Propriedade deveria ter sido o ponto de partida dos senhores deputados. Hoje em dia, uma sociedade que se pretende desenvolvida, ou que almeja ser classificada como desenvolvida, não pode medir esse desenvolvimento apenas pelos números das exportações de meia dúzia de commodities.
O discurso hipócrita coloca que existe um embate entre ruralistas e ambientalistas, e de que caberá ao governo, o papel de “restabelecer o mínimo de bom senso na discussão das regras de preservação ambiental e a produção de alimentos no país”. Mas onde está o bom senso se no mesmo dia da votação do novo código florestal pela Câmara dos Deputados, se assassina um casal de trabalhadores, ambientalistas e assentados da reforma agrária?
A produção de alimentos não está em jogo no país. O que está em jogo é uma vergonhosa e escandalosa nova rodada de impunidade, liberalidade e condescendência para com um grupo de pessoas e empresas que pretendem se valer do discurso produtivo para legalizarem suas ilegalidades. Assim, é preciso denunciar que o que vem por ai é, enfim, os gafanhotos destruidores.
3 comentários:
como são as coisas, hein! um gafanhoto falando dos outros!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
salve a ecologia!
E os hipócritas gafanhotos que destruíram o INCRA ainda tem a coragem de pagar de santo. Tomara que a Dilma ponha logo essa turma pra correr enquanto ainda dá tempo de salvar o órgão e a reforma agrária.
come é fácil se esconder atras do anonimato mas, não será preciso muito esforço para saber que tipo de covarde é esse.
Um crédulo que acredita nesse governo que pisa nos debaixo para seguir se curvando aos de cima.
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